sábado, 15 de maio de 2010

O almanaque ambulante dos anos 80

Quero dividir com os meus leitores uma ótima matéria de comportamento que participei para a Revista Corporativa.


Na crista da onda retrô

Elvis não morreu. Nem os Mutantes, Raul Seixas, He-Man, Itubaína ou a Sete Belo. Os ícones das décadas passadas estão mais vivos do que nunca para alguns nostálgicos, assumidos ou não

As décadas de 60, 70, 80 não saíram de moda. Estão mais presentes nos dias atuais do que se imagina. Alguns ícones desse tempo, não tão remoto, continuam a fazer a cabeça de muitos “antiquados”. Os desenhos animados He-man e Caverna do Dragão continuam em exibição em alguns canais de TV, o refrigerante Itubaína, lançado nos anos 50, ganhou uma nova versão, a Itubaína Retrô, em garrafas lonk neck de 355 ml, e as bandas Capital Inicial, Paralamas do Sucesso e U2 continuam a arrebatar milhares de fãs. “Uma forma de pensar, um estilo de vida, um estado de espírito são expressos pelo consumo de produtos que, no universo simbólico, trazem a referência de uma época, um romantismo, valores e crenças”, explica o sociólogo e professor de Ciências Sociais da PUC – Campinas, Duarcides Ferreira Mariosa.

A expressão nostalgia, de acordo com o nosso dicionário de língua portuguesa, significa melancolia, tristeza causada pela saudade de sua terra, saudade do passado e de um lugar. No caso, podem-se excluir as palavras tristeza e melancolia. É justamente a lembrança de momentos alegres e memoráveis que levam milhares de “nostálgicos” à procura desenfreada de sabores, cheiros e sons que fizeram parte de sua infância e juventude. Para Ferreira, essa referência ao passado é uma seleção de coisas que interessa para a pessoa e ela as transfere para o presente. “É como se as coisas existissem simultaneamente e cada um escolhe seu estilo de vida. Por exemplo, um cowboy com sua caminhonete importada, seu iphone, celular e notebook que ouve no rádio do carro música caipira da época do seu avô”, completa Mariosa.

O amante de cinema, histórias em quadrinhos, vídeo games e café, Arian Carneiro de Mendonça Alves Pereira, 31, é publicitário e nas horas vagas se dedica a descobrir e colecionar objetos, brinquedos, doces, discos e gibis. O saudosista e nostálgico assumido garante que ao saborear um “Chocolapis” ou uma bala “Sete Belo” sente o sabor da infância novamente. “A memória funciona por um estímulo sensorial, por um cheiro, sabor, imagem ou objeto, e remeter ao passado é muito gostoso. É um momento só seu, que te relaxa”, garante.

Fã de Guerra nas Estrelas, Caverna do Dragão, He-Man, Ultraje a Rigor, Blitz e Magazine, Arian é um almanaque ambulante dos anos 80. Em um rápido passeio pelo centro de Campinas, foi possível viajar no tempo. “Aqui no Mercado Campineiro, na banca do seu Adriano (Bomboniere Riviera), eu encontro os doces que comia quando ia ao cinema na infância como os chocolates em formato de moeda e lápis e as Balas Chita”, conta o colecionador enquanto aponta para outros produtos da barraca que fizeram sucesso no passado e hoje continuam à disposição dos saudosistas. Logo adiante, à Rua Ferreira Penteado, uma simples portinha é a entrada para um mundo encantado. A loja Folha Solta, do proprietário Claudinei Garbin, mais conhecido como Nei, é um dos lugares onde Arian passa horas. Cercado pelo vilão Esqueleto, pelo herói He-Man, pelo Gorpo e pelos mais de 500 bonecos de personagens do sebo, ele relembra a infância com alegria. “Nostalgia para mim não tem nada de triste. É só coisa boa”, afirma.


Segundo o proprietário Nei, que também é apaixonado pelas raridades do passado, aos sábados, dia de mais movimento na loja, passam em média 50 pessoas, e a procura pelos objetos é maior por parte dos colecionadores. “Mas muitos pais passam com o filho pela loja e acabam comprado um brinquedo que não puderam ter na infância. Isso acontece comigo, pois quando tinha 10, 12 anos, não tinha dinheiro para comprar os brinquedos que queria. Agora, mais velho, e trabalhando, posso fazer isso”, filosofa o dono da loja.

A última parada é na mesma Ferreira Penteado, número 720, no reduto dos fliperamas, o World Game, da proprietária Geni de Melo Scremim. “Agora o que está na moda são as coisas antigas”, responde ela quando indagada sobre o número pessoas que param ali para jogar. A R$ 1 a ficha, os jogos de pinball desfiam Arian. “Sempre joguei e até hoje dou uma escapada para brincar”, conta.



“Eu sempre fui antiquado”

O jornalista Fábio Bonillo, 22, não se considera um nostálgico. Ele ouve Bob Dylan ou Villa-Lobos sem saudosismo e sem pensar que aquela época é que era boa. “Só acho que é importante conhecer a cronologia das coisas, sou um pouco obcecado com isso”, revela. Guiado por essa obsessão, ele não se rendeu as facilidades e economia de tempo e dinheiro da câmera fotográfica digital. “Eu achei melhor começar do começo, ou seja, aprender primeiro o que é fotografia (desenho que a luz faz nas superfícies). E com uma câmera digital não se consegue isso”, explica Bonillo. Os discos de vinil que coleciona não são para tocar na vitrola, mas sim para apreciar a arte das capas e os filmes mudos que gosta de assistir, ironicamente, são vistos pela Internet ou no DVD.

Leitor dos clássicos “Ilusões perdidas”, do francês Honoré de Balzac, e de "Moby Dick”, do americano Herman Melville, Fábio acredita que esses autores do século XIX têm mais a ensinar para os dias de hoje do que os escritores que vivem o presente. “Eu sempre fui antiquado e sempre achei que tudo que é muito recente, salvo raras exceções, é um lixo, no quesito cultural”, assume o jornalista, que reconhece o lado bom das evoluções tecnológicas. “Gosto de viver na era da tecnologia justamente porque ela te permite juntar tudo o que já foi e estudar quase tudo o que já passou. Eu nunca usei máquina de escrever para fazer matérias porque isso é coisa de quem parou no tempo, mas tenho uma em casa”, confessa. 



Crédito: jornalista Lívia Mota / fotógrafo Celso de Menezes, matéria para Revista Corporativa, março/abril/maio de 2010.

3 comentários:

  1. Broder, esse texto me deu tamanha alegria por saber que ainda há pessoas e que existem lugares que resgatam nossas lembranças de infância. Aqui onde moro não conheço nada parecido com os locais que você frequenta e citou. E é por essa ausência que estou tentando montar em minha casa um mini-museu de brinquedos antigos e também uma discoteca e uma filmoteca dos anos 80. Garimpo tudo em lojas especializadas e virtuais. Já encontrei algumas raridades. Desde os brinquedos que tive quando criança até os que queria ter mas não tive por serem caros na época. A parte musical como Lp's, K-7's e também algumas coletâneas em CD's busco em sebos locais. Com o Bum dos filmes re-lançados em formato digital, consegui montar um pequeno e singelo acervo, mas que já me traz muitas recordações boas. Espero que nenhuma das lojas que frequenta feche. Abraços e sucesso nesse 2012!!!

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    1. Fico muito feliz de saber que existem outros saudosista por aí. Um grande abraço e boa sorte com sua busca por itens tão cobiçados. Arian

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  2. Paulinia-SP

    Se tiver alguem desta epoca de Campinas , Fliperama da Barao de Jaguara anos 70 80 Pembolim , manda mensagem

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